12 de abril de 2023

Ansiedade contada em dias

Ao longo da vida, perdi a conta ao número de vezes em que andei em contagem decrescente, por ser algo que sempre serviu o meu lado ansioso nas mais diversas formas. Fazia contagem decrescente para as férias, para as viagens, para os festivais, para os fins de semana diferentes (e especiais), para o Natal, para o fim de ano... Mas não me recordo de alguma vez ter feito uma contagem decrescente para uma consulta médica e, agora, o meu cérebro não quer outra coisa.
"Sexta é a consulta A, depois na terça é a B, na quarta tenho duas e aí já só faltam 7 dias."

Gostava de poder chamar a isto "velhice", como faço com as conversas dos meus colegas de trabalho que não consigo acompanhar (todos os nomes soantes de stand up comédia dos últimos dois anos não me dizem nada mas um deles que desconhece os Gato Fedorento, sim, isto é da diferença de idades aliada à vida de mãe), mas não estaria a ser honesta, tenho mesmo que culpar o meu cérebro ansioso que se acalma por saber que há uma meta para alcançar.

E já só faltam 15 dias... TIC, TAC, TIC, TAC...

10 de abril de 2023

Razão de viver

Meu amor,

Como sabes, o meu pensamento e a minha atenção andam ausentes e quero garantir-te que não tem nada a ver contigo. Continuas a arrancar-me os sorrisos mais genuínos e a proporcinar-me as maiores alegrias, com a força do teu abraço e o sorriso rasgado quando me vês chegar ou com os teus risos de alegria quando te cubro de beijos.
No final do mês, vou-me ausentar. Sinto e sei que vai correr tudo bem mas, se não for esse o caso, quero que saibas que te amei com todo o meu ser e fiz o melhor que sabia por nós.
Quero pedir-te que não fujas do Alentejo cedo demais, controla os impulsos e cresce aqui onde a vida é tua, calma e segura, vais ter todo o tempo depois para explorar o universo (sim, com esse feitio igual ao meu, nem o céu é o limite).
Um dia, procura os meus amigos, aqueles que escolheram códigos postais espalhados por essa Europa fora, e pergunta-lhes por mim. As 50500 memórias idiotas vão proporcionar risadas, mesmo que depois se transformem em lágrimas... Com jeitinho, vamos fazê-lo juntas.

Apesar de tudo, sempre a pensar em ti!

1 de abril de 2023

CPQ

Foi no dia 29 de Março de 2023...
Era um lindo dia de Primavera que quase parecia Verão, eu estava a trabalhar de casa e preparava-me para entrar numa call, o meu standup diário. Ao lado do teclado, pousado na mesa, o telemóvel iluminou-se com uma notificação "Tem um novo resultado de exame..." e eu, instintivamente, cliquei no aviso, com aquele ânimo leve e otimista de quem sente que está tudo bem.
Abri o relatório. No meio de todo um extenso discurso, o meu olhar foi atraído para três palavras a negrito - Carcinoma papilar quístico - e uma palavra separada das restante, que me derrubou: Maligno.
A minha call estava a começar, juntei-me e lembro-me de ter "vomitado", a ritmo bem acelerado a acompanhar o bater do meu coração, aquilo que tinha feito nessa manhã. Ninguém me fez perguntas. A partir daí, não ouvi mais nada, nem faço ideia dos temas que foram falados, dei por mim a escrever "desculpem, tenho que sair" e desliguei para viver aqueles momentos de apatia que se instalam quando o nosso mundo muda radicalmente e nós nem conseguimos processar o que acabou de acontecer.

31 de janeiro de 2023

1/4 de desafio cumprido

Faz hoje um ano que me preparava para abraçar um novo desafio, em modo "full remote", para uma startup reconhecida.
Nos ombros, carregava o peso de uma fuga apressada e uma insegurança gigante por sentir que o meu caminho não era por ali.
Cedo percebi que não tinha sido a decisão certa, mas as regalias eram boas e, digam o que disserem, assumir um erro é doloroso.
O tempo foi passando e a corda esticou até onde deu. Sem que nada o fizesse prever, eu já não era o perfil que eles precisavam e eu escolhi desistir (a minha sanidade assim o quis).

Faz hoje três meses que me preparava para abraçar um novo desafio, em modo híbrido com duas idas, por semana, ao escritório em Lisboa, num novo hub tecnológico.
Nos ombros, carregava o medo de voltar a viver tudo outra vez, de não estar à altura.
Cedo percebi que não há duas experiências iguais, que há espaço para mim (por inteiro) ali e que posso crescer.
Neste pouco tempo que passou, já percebi que ainda há muita coisa que me passa ao lado mas consigo relativizar e não sofro como antes.

14 de janeiro de 2023

Ano novo

2023
Vem devagarinho, com calma e tranquilidade,
Abre espaço para um sereno novo caminho.
2023
Vem ser pressa, com gentileza,
Permite que seja este o ano da "Conciliação",
Comigo, com o meu espaço, com os outros, com esta (ainda) nova vida.
2023 vem!
Com a certeza que o tempo é a cura para muitos males e que com o tempo também podem nascer novas vontades: vontade de ser, vontade de estar, vontade de querer e vontade fazer.
Vontade de pôr todos os planos em marcha.
2023 desculpa,
As expectativas estão muito elevadas,
Anunciam-se ventos de mudança que não são culpa tua.
2023...
Vamos mudar o (nosso) mundo!

17 de setembro de 2022

Revo-desisto

Ontem foi (outra vez) o dia... Dia de assinar a carta de rescisão, dia de desistir, dia de assumir que há funções que mesmo que sejamos capazes de desempenhar não servem para nós...

A aventura, aos olhos dos demais, foi curta - oito meses a caminho dos nove. Para mim, foi gigante. Houve tempo à farta para agonizar, para sofrer, para conhecer pessoas espetaculares, para destruir a minha saúde mental (e a física também que sofreu por arrasto) e para destruir toda e qualquer réstia de auto-confiança.

Neste momento, ainda não sei se foi a opção certa, continuo em stress. Ainda por cima, desistir de um emprego full remote, quando se escolhe viver no Alentejo, também tem o seu peso. [Lá vou eu ter que aturar o meu pai e justificar-me aos 39 anos que ainda tenho o direito de escolher ser feliz!]

Como a empresa tem os processos super bem definidos (para o bem e para o mal), submeter a rescisão vem logo com uma carga gigante de questionários e listas de próximos passos que nos impede de encarar o processo de ânimo leve. E isto fez elevar os meus níveis de stress, já olímpicos, e fez subir a minha tensão.

Pela primeira, é claro como água que não desisto da minha chefia direta, desisto daquilo que são as funções de data analyst naquela empresa (este mundo dos dados sofre imenso disso, há imensos nomes sonantes para uma função mas depois ninguém sabe bem o que é suposto ser feito em cada uma delas). Verdade seja dita que ter aceite este emprego pelas razões erradas (fugir de uma chefia de cocó) não ajudou a tentar perceber o que o poderia vir por aí e estive a pagar isso durante estes meses.

Agora, deixo a porta aberta a um futuro mais brilhante, mais otimista, mais ponderado... Ou não! Que seja um mergulho em bom no desconhecido.

19 de junho de 2022

Plantar uma árvore, criar um filho e...

Os sábios da minha terra dizem que, se pensamos escrever um livro, já é tarde para começar. 
Parece que, com o passar do tempo, a nossa memória nos prega cada vez mais partidas e nos começamos a limitar a cada vez menos estórias, que repetimos sem parar em cada jantarada de amigos ou reunião familiar.

Dei por mim a pensar... Já lá vai o tempo em que tinha imaginação para o enredo das minhas histórias de aventuras do "Rui - o explorador" que acabavam sempre com uma escalada ao Monte Everest (sem que eu nunca tenha entendido o porquê deste fascínio), se fosse escrever um livro agora seria sobre o quê!? Se fosse um livro de memórias, quais seriam as minhas maiores conquistas a incluir? Se fosse dos meus eternamente desejados romances líder de vendas, qual seria o final feliz da minha heroína?

Longe vai o tempo em que seria a primeira a dizer que não queria morrer sem escrever um livro... Depois disso, a minha prima já casou. Eu decidi oferecer-lhe uma coletânea da minha passagem pelo mundo das rimas fáceis, uma ambição frustrada à poesia de algibeira. E ao ver a "obra" tão organizada e encadernada, passou-me a vontade, como se tal propósito já tivesse sido alcançado.

Talvez esteja na altura de repensar esse meu desejo (já que estou folgadinha com as 50 mil tarefas que esta "nova" vida reservou para mim).

19 de maio de 2022

Solidão

Hoje, queria ser capaz de escrever sobre solidão. Mas a primeira ideia que surge no meu cérebro remete-me para uma música de Maria Guinot, Silêncio e tanta gente, "às vezes é no meio de tanta gente que descubro afinal aquilo que sou" e dou por mim a questionar-me se errei o tema.

No meu antigo trabalho, era conhecida pelo meu mote laboral "detesto pessoas!", embora todos identificassem bem a minha veia social e extrovertida, a roçar o cargo de relações públicas internas (sim, ir ao escritório era muito menos produtivo para mim).

Muita coisa mudou, toda uma vida se adaptou, e eu continuo a afirmar que "detesto pessoas!". Simplesmente porque a maioria dos seres humanos, que se queriam seres pensantes, escolhe não usar o cérebro! Eu sei que, grande parte das vezes, nem é culpa deles, aquilo não dá para mais, mas irrito-me na mesma.

Curiosamente (e felizmente!), há pessoas que se situam do outro lado da barricada, que me surpreendem e que me fazem questionar a minha forma de ser e estar. É no meio dessas pessoas que me sinto mais eu, que me dou ao luxo de extravasar, de esquecer o bom senso... Mas, não é de agora, essas pessoas estão ausentes, distantes, disconexas... E eu!?

20 de abril de 2022

Revolut(ion)

A "minha amiga" decidiu mudar de vida. Bateu com a porta! Desistiu de aturar mulheres idiotas e inseguras e fez-se à estrada.
Como resultado dessa decisão impulsiva, emotiva e muito pouco explosiva, foi parar numa empresa de homens, numa equipa de homens, num "mundo" de homens (melhor mesmo só se fosse uma empresa de desenvolvimento de um software qualquer para homens de barba rija).
Os mais entusiásticos arriscariam a dizer que ela foi cair onde sempre quis estar, que foi exatamente isso que ela sempre pediu ao universo - homens no contexto laboral, sim se faz favor! Mas... [As histórias parvas têm sempre um mas, não é!?] Porque é que há homens que são uns stressados e ligam o complicómetro com tanta facilidade quanto uma mulher!?
Ela quer acreditar que vai conseguir ser feliz ali, que o inglês universal que não lhe permite fazer-se entender pelo pequeno génio que tem como chefe não será uma limitação, que vai derrotar o síndrome da impostora e atribuir valor e significado à sua presença naquela equipa... Por agora, pairam as dúvidas, a desconfiança e a desvalorização, junto com a vontade de fazer mais e melhor, de aprender e de fazer a diferença. Qual será o prato da balança a ganhar a batalha?