24 de novembro de 2025

It's the final countdown! (Pela não-sei-quanta-ésima vez)

Olá, pessoas giras!


Hoje é o dia... De fazer um balanço de quase 19 anos (falta mais ou menos um mês) desde que terminei a minha licenciatura e o mundo profissional sempre foi uma gigante montanha russa, daquelas em que é preciso voltar atrás para ganhar balanço e seguir em frente.

Quando terminei o curso, já estava a estagiar no instituto tecnológico e nuclear numa tentativa (número 1) de conquistar um lugar no mundo da investigação científica. Foi uma experiência mista entre investigação e secretariado (para conseguir ganhar uns trocos), que rapidamente me revelou que o meu caminho não era por ali. Eu, miúda conhecida pelas suas boas notas, concluí o curso de Matemática, no ramo de especialização científica, com média de 13 e toda a gente me fez sentir que essa nota não servia para nada (porque, efetivamente, no mundo da investigação que vive de bolsas essa nota não é suficiente).

Num centro de Novas Oportunidades, em Lagoa, seguiu-se a aventura de ser senhora formadora (número 2). Foram dos piores 5 meses da minha vida, mas trouxeram-me um dos melhores "apêndices" à minha vida: o meu Renault Clio. Lembro-me perfeitamente do pânico em perceber que para dar formação nas vilas / aldeias em redor, ia necessitar de conduzir, e de termos comprado o carro debaixo do mote "nunca te esqueças que ele come e bebe contigo à mesa".

No desespero de fazer uma fuga rápida, aceitei um estágio profissional através do IEFP, numa empresa se transportes, a fazer gestão de tráfego (número 3). Foi aqui que senti o meu primeiro contacto direto com a vida real do mundo profissional: uma empresa familiar, com profissionais da velha guarda com todos os tiques de relações interpessoais tóxicas, motoristas de camião com todas as queixas características da profissão e um gestor novo e alternativo a tentar mudar o mundo.

Ao fugir, tropecei novamente num centro de Novas Oportunidades, desta vez, na escola profissional Gustavo Eiffel, na Amadora (número 4). Estávamos em 2009 e eu, na carreira de senhora professora inocente, consegui perceber que a desigualdade salarial entre géneros era efetivamente um tema na minha vida. Mesma função, mesma experiência, mesma data de entrada na empresa e salários diferentes. Aqui, deixei-me contaminar pelo ambiente descontraído entre colegas (uma equipa porreira, praticamente toda na mesma faixa etária) e, quando dei por mim, nada fazia sentido e eu nem queria ter que interagir com os colegas.

Na VASP, encontrei a fuga seguinte (número 5). As frases feitas de "estudos de mercado" e "modelação de reparte" converteram-me e abriram-me a porta para aprendizagens que trago comigo até hoje. Foi lá que as consultas em SQL começaram a ganhar sentido, foi lá que o curso de Matemática que tirei, com uma especialização, ganhou significado e foi lá que aprendi a gerir frustrações com os colegas de trabalho, porque gostava mesmo do que fazia. Fiz um contrato de estágio, por 6 meses, a ganhar 750€, sem direito a subsídios nem nada do género. Ao fim desse tempo, renovaram-me o contrato de estagiária, 6 meses, porque tinha regalias para ambas as partes e, depois disso, na hora de conversar sobre o futuro, sugeriram fazer-me um contrato de um ano com as mesmas condições mas com subsídios e a fazer descontos. E eu tenho que confessar que, a proposta de ser estagiária pela terceira vez na mesma empresa me soou a ofensa.

Paralelamente, no mês em que faria um ano de casa na VASP, fui contactada por um centro de Novas Oportunidades, na Escola das Profissões da Amadora (concorrência direta do centro em que tinha trabalhado antes), para dar formação em part-time. Precisavam mesmo de um formador da minha área para conseguirem certificar os formandos e eu achei que era a altura certa da vida para trabalhar na minha área durante o dia e dar formação à noite. Entretanto, souberam do processo que eu estava a viver na VASP para estagiar pela terceira vez, e puseram-me no colo aquilo que pareceu uma proposta milionária e não deu para resistir. Voltar à formação de adultos revelou-se a experiência número 6 e nem a senti como fuga, foi mais um "vou ver os meus anos de curso recompensados".

Nesta fase, durante uns 6 meses, acumulei a experiência número 7, como formadora no centro de Novas Oportunidades da ETIC.

Dezembro de 2011 chegou com a decisão de encerramento dos centros de Novas Oportunidades, a nível nacional, e vivi (pela primeira vez) o conceito de despedimento coletivo. Foram períodos maus e complicados, eu estava nesta altura a tirar o mestrado em ensino, que me tinham "aconselhado" para continuar a dar formação. E, quando me sugeriram ignorar o acordo de despedimento coletivo e voltar a trabalhar, recusei. Honestamente, nunca saberei se foi ou não a opção correta, mas foi a minha. E continuo grata por ter acontecido assim.

No Verão de 2012, por estar a frequentar um mestrado na Faculdade de Ciências e Tecnologia, tive a oportunidade de estagiar no BES (número 8), numa equipa de gestão de informação (os conceitos de SQL aprendidos na VASP jogaram a meu favor e nem os ténis pretos usados na entrevista me prejudicaram) e fui ficando. Não concluí o mestrado, fiz só o primeiro ano, mas o saldo foi francamente positivo (apesar dos altos e baixos, avanços e recuos, e das lágrimas).

A experiência número 9, na GEOBAN, foi uma tentativa de continuar a trabalhar na área da banca e fugir ao ambiente Novo Banco (pós liquidação do BES). Não foi uma boa experiência mas permitiu-me uma semana, a trabalho, sozinha em Madrid, para testar a minha resiliência e os meus limites.

Em Dezembro de 2015, juntei-me à equipa da PHC, como Data Scientist (número 10), uma função que estava na moda na altura mas que ninguém sabia muito bem o que significava. E não descansei enquanto não passei a ser Business Intelligence Developer, por ser o nome das funções que efetivamente desempenhava. Desta casa, trouxe a apresentação que fiz, perante 600 clientes, e todas as aprendizagens que fiz para que isso pudesse acontecer, especialmente a questão de Lewis Carroll, o criador de Alice no pais das maravilhas, "que caminho devo tomar".

Através da rede de contactos em comum, em Fevereiro de 2018, entrei na WPP, pela MediaCom, e não dei tréguas enquanto não me mudei para o GroupM. Inicialmente, o trabalho de automatização na MediaCom foi excelente e super recompensante, mas voltar a ter um líder que chefia pelo medo (o primeiro tinha sido no ITN) trouxe-me muitas amarguras. Quando as tentativas de fuga começaram a ser demasiado intensas, passaram-me para o GroupM mas a bagagem foi comigo. Consegui endireitar-me, fazer funcionar e tentar ser feliz, mesmo sabendo que não me alinhava com o líder utópico daquela casa. Durante a licença de maternidade, mudanças aconteceram e o regresso foi péssimo. Trouxe muita coisa no coração, desta parte do percurso, e a certeza que as mulheres do signo Carneiro, mal resolvidas, são a pior espécie que pode existir no mundo.

Em 2022, com uma bebé de um ano dentro de casa, tornei-me data analyst na Revolut (número 12). Facilmente, recordo o tanto que ouvi dizer mal desta casa, do ambiente tóxico e da exigência desmedida. Defendi sempre que as pessoas fazem a diferença e que nem todas as equipas são iguais. Mas cedo percebi que a correspondência com a vaga esta meio debilitada, que o Python seria a minha competência base (que embora goste não nutro nenhuma paixão assolapada e que isso só piorou depois dessa experiência) e que estaria limitada a fazer visualizações em Looker.

Quando, no mesmo ano, a proposta da Tyson Foods me caiu no colo, para ser data modeler (número 13), não houve hesitação possível. Até hoje, continuo a sentir que foi a melhor função que desempenhei, com as melhores dinâmicas e a melhor estrutura corporativa (mesmo a pagar melhor a homens do que a mulheres na mesma função e com o mesmo nível de experiência). A ideia de uma equipa em Lisboa surgiu de alguém que acabou por ser afastado da empresa e, consequentemente, numa contenção de custos, lá veio o despedimento colectivo (mesmo na altura em que eu lutava com o cancro da tiróide).

A Hakkoda apareceu na minha vida, quando terminava a baixa médica e não queria ir para o subsídio de desemprego ficar sem trabalhar, associada a um sentimento de exploração (dada a regressão na banda salarial e o conceito de consultoria). Mas não foi a pior experiência do mundo. Proporcionou-me duas viagens à Costa Rica, uma a ponderar o divórcio e outra em modo "vivir la vida loca". E a única falha, foi na hora de sair: não negociei o ordenado na futura empresa na esperança de uma contraproposta para ficar (algo que sempre achei que faz zero sentido). Big mistake!

Em Julho de 2024, juntei-me à Bose. Aprendi o valor do som e aprendi também o valor da autovalorização e da negociação. Dei por mim com salário igual a colegas com menos 10 anos de experiência e cedo perdi toda e qualquer motivação para mostrar valor e entregar aquele trabalho extra diferenciador. Não senti em nenhum momento que esta experiência tivesse corrido bem (excepto nos eventos de empresa presenciais e nas regalias físicas que vou guardar). O meu sistema nervoso absorveu a desmotivação e tive crises de ansiedade e picos de tensão (cheguei mesmo a ser hospitalizada sem ficar a perceber o que se tinha passado). Descobri um mega tumor no fígado e uma gastrite crónica. Esgotei todos os plafonds do seguro de saúde me apenas três meses. E ainda, vi a minha filha a ser operada e escolhi ficar de baixa a tomar conta dela. Portanto, senti esta experiência de braço dado com circunstâncias estranhas e senti que precisava de um recomeço (obrigada pelo empurrão, quando decidiram promover o meu colega de equipa).

Agora, enquanto fecho a porta número 15 e aguardo o começo 16, sinto uma falta gigante de colocar tudo em perspectiva. Culpo-me, mentalmente, por aceitar este desafio. Quero acreditar nele, nas regalias que proporciona e nas portas que abre, mas não consigo. Questiono-me se senti o mesmo noutras alturas, face a outras mudanças, e entristeço-me.

Infelizmente, sei que aquilo que procuro não está incluido neste número (embora possa ser uma forma mais rápida de lá chegar). Odeio pôr isto por escrito e reconhecer isto não só para mim mas para o (meu) mundo, odeio o trabalho remoto. Mas não odeio ter-me colocado nesta situação, sinto e sei que é o melhor para a minha filha, que ela não merecia crescer na Amadora, sem saber se ao final do dia os pais conseguiriam chegar até ela em tempo útil, numa dinâmica de stress constante (aqui onde fica tudo a 5 minutos de distância já é o que é, nem quero imaginar naquele contexto). Eu sou de pessoas, de escritório, de cafés na copa a meio da manhã, só não sou de mudar de vida da noite para o dia de bolsos vazios (tenho ricos pais mas também tenho contas para EU pagar).

Desculpem lá a enxurrada, foi o que se arranjou. Boa semana!


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