Já nem sei bem quando foi que decidi aventurar-me e tentar fazer os 21 quilómetros da meia maratona, mas lembro-me que uma das primeiras preocupações foi (fazer uma espera ao Miguel para) adaptar o meu treino do ginásio a esta moda “nova” das corridas.
Os tempos das 3 corridas de 10km que fiz (Tejo, Aeroporto e ISCTE) arrumaram-se de modo decrescente, o preço das provas teimava agora em crescer e eu pensei “não tenho vida para isto, vou arriscar”. E assim fiz, com a devida antecedência, comecei a treinar para a meia maratona!
Entretanto, apareceu uma prova convidativa, os 20km de Cascais, e eu lembro-me de ter pensado que o lema deles era perfeito (“desafia-te além dos 10km”) e poderia ser, sem dúvida, um bom treino para a meia maratona (por ser 15 dias antes ainda dava para recuperar ou perceber que não ia chegar ao fim), portanto, inscrevi-me.
Os treinos não correram como previsto. Numa aula de cycling, sem saber bem como, lesionei o tornozelo e as corridas tiveram que ser bastante doseadas (só para não assumir que foram reduzidas ao mínimo possível). Mas decidi ir a Cascais na mesma.
Hoje levantei-me cedinho e corri para a janela, “boa, está um dia de m#$&@!”. Tinha deixado tudo preparado no dia anterior, vesti-me, acondicionei o meu tornozelo dentro de umas meias de compressão XPTO, tomei o pequeno-almoço e meti-me a caminho, sem grande convicção.
Esta prova deixou-me brutalmente ansiosa, a ideia de ultrapassar os meus limites rumo ao desconhecido mexeu com o meu sistema, tal não era o medo de não a dar acabada que até levei o telemóvel comigo (logo eu!), mas sabia que tinha o esquema todo montado mentalmente para poder combater a parte psicológica que eu receava que me vencesse.
Contrariamente ao que tinha feito nas outras provas, parti quase da linha da frente para me poder orientar pelo tempo de prova (curiosamente desta vez ele não existia em mais lado nenhum senão na frente da corrida) mas estava decidida a andar os primeiros quilómetros. Foi uma missão impossível, a recta inicial sem inclinação pedia uma corridinha e lá fui eu no meio da multidão até começar a subida, aí decidi andar, sabia que tinha imensos quilómetros pela frente e desejava chegar ao fim.
1km: Percebi que a inclinação tinha atenuado e (re)comecei a minha prova. “Os altos e baixos são só até aos 6km” e lá fui eu agarrada àquele sentimento.
2km; 3km; 4km: Começa a chover, aquela chuva miudinha super chata, e eu recordei as palavras da Sofia, a colega de trabalho que em tempos me desafiou para uma corrida, “se chover até corres mais depressa”.
5km: Água! Bebi um pouco e não agi em conformidade com o passado, optei por não correr com o que tinha sobrado (burra!).
6km: “Agora até aos 16km é tudo sem muita inclinação, tens que correr pelo menos até aos 10km”.
7km; 8km; 9km; 10km: O meu joelho deu sinal de vida, com quem diz “não chega já!?”, apercebi-me que o meu ritmo estava muito lento e que já não havia água para mim (tinha acabado!) e pensei “pronto, aguentas até aos 12km que depois descansas”.
11km; 12km: Decidi comer a minha barrinha de cereais, ainda a correr, porque haveria água nos 14km e eu só queria lá chegar.
13km; 14km: Morta de sede. A organização a informar “há água nos 15km”. Segue!
15km: Água! Finalmente! Novo alento para correr até ao quilómetro seguinte.
16km: Tentei aguentar-me, resistir, mas passado pouco tempo comecei a ver a subida e dei-me por vencida. Tentei andar, as dores que sentia nas pernas e no rabiosque eram tantas mas tantas que pensei “mais vale correr devagar”.
17km: Voltei a fazer uma tentativa para andar, em passo acelerado, porque queria mesmo terminar a prova a correr, mas as dores musculares não deixaram e lá fui eu a correr devagarinho.
18km: “Está quase e agora é maioritariamente a descer.”
19km: Um fotógrafo mete-se comigo (naquele troço ia completamente isolada): “Agora é o tudo por tudo... para a foto!”. Fez-me rir e sorrir, e fui assim com aquele sorriso idiota até à meta. Ao chegar à Baía vi o cronómetro 2:08:02, sabia que tinha partido um pouco depois, toda eu brilhei: “excelente prova!”. E o meu chip diz:
Hoje, o anúncio dos BES Run Challenge que tanto tenho ouvido passou a fazer todo o sentido, é qualquer coisa como “só até à árvore, agora só até ao carro, só até àesquina, só até Cascais...”, correr assim tem mesmo que ser por objectivos mais curtos :)