Olá, olá!
Hoje é o dia.
Há uns tempos valentes que eu devia ter começado a organizar o cérebro, mas a inércia tomou conta de mim e a vida por objetivos estava a funcionar que eu fui arrastando tudo. Mas agora que a maior parte dos temas está fechado, que tirando a saúde já está tudo em piloto automático, está na hora de voltar a ser eu.
Primeiro, a carta aberta segue por esta via porque eu sou muito burrinha, e desde que voltei a escrever aqui que o meu maior receio era mesmo "quem lê estes desabafos" (mas a verdade é que a escrita em papel que tantos advogam como milagrosa, não funciona assim tão bem para mim), mas tenho perfeita noção que à coisas que sabes, comentários que fazes e referências que nunca seriam possíveis se não passasses por aqui.
Segundo, a necessidade da carta aberta existe porque eu ainda não fiz as pazes com a situação (há vários temas da separação / divórcio que nunca foram endereçados, nem vão ser, mas que eu preciso de "deixar ir").
Há coisas que eu não vou ser capaz de esquecer nunca, mesmo sabendo que no "calor do momento" se diz muita asneira, como a tua resposta à minha sugestão de darmos um tempo e ficar cada um de nós uma semana com a Catarina, na casa de família, e na outra semana ficarmos com os nossos pais/mãe. A indignação que mostraste por teres que assumir à tua mãe que o teu casamento não estava bem nunca me fez sentido (não se assume que não está bem e se tenta resolver mas assume-se que vai cada um à sua vida) mas, agora, respeito. Nunca foi novidade para mim quem era a prioridade (contra mim falo que só agora iniciei o processo de colocar a minha família no devido lugar, ou de me colocar a mim no devido lugar face à minha família). Em cima disso, ouvir-te dizer que posso ficar com tudo excepto a Catarina e o Stout pareceu-me algo digno da canção da Ágata ("tira-me tudo na vida e o mais que consigas mas não fiques com ele"), bem sei que sempre tive a veia de mãe adormecida mas, da mesma maneira que não querias ser afastado da vida dela, não me parece muito lógico achares que eu o faria.
Toda esta mágoa faz-me sentir que ainda não fechei o capítulo (e, claramente, enquanto não termina um não há nenhuma forma de outro começar de forma pacífica e serena). Já estou muito orgulhosa por sermos pessoas capazes e trocarmos mensagens e alinharmos as coisas da Catarina (e até outra partilhas aleatórias sobre empregos ou tecnologia), sinto que fizemos um progresso gigante para não sentir vontade de te espancar a cada pergunta distraída que fazes (eu sei que já eras assim antes e que tinhas uma gaja espetacular, linda de morrer com uma memória incrível para te lembrar de tudo, mas se calhar agora precisas apostar mais nos lembretes do google 😁). Só que ainda temos que alinhar uma coisa ou duas, tipo não me avisares na véspera quando precisas que fique com a Catarina para trabalhares, ou não recusares sempre que questiono se podes ficar com ela (convém que uma mão lave a outra, porque eu também tenho vida, simplesmente - já - acho que dá para tudo).
Eu já não tenho nenhum interesse romântico em nós. Obviamente, vou guardar os nossos anos muito felizes, vou recordar as datas marcantes e vou fazer o melhor para que a Catarina transforme a expressão "quando eram amigos" para algo tipo "quando viviam juntos". Sinto que ainda carregamos o peso das meias palavras, do que gostávamos de dizer mas não conseguimos, e sem ultrapassar isso continuamos a alimentar um capítulo mal resolvido.
Enquanto permitirmos, vai continuar a ser estranho estarmos juntos. Arrisco dizer que será 50500 vezes mais simples quando cada um de nós tiver encontrado a sua nova cara metade e nenhum dos nossos antecessores familiares estiver por perto. Mas o meu lado espiritual ainda não embarcou pela futurologia e não consigo fazer previsões desta natureza.
Lamento que a vida em Grândola não faça sentido para ti (quer se queira quer não, uma vida sem ter que fazer "piscinas" entre códigos postais ia fazer diferença), também não fazia para mim e ando a aprender a fazer resultar (até já exploro alternativas para ser uma pessoa capaz e trabalhar por aqui), porque sinto e sei que para a Catarina é o melhor.
Respeito e aceito quem és, reconheço os momentos de insanidade temporária e coração ao pé da boca e agradeço por tudo o que vivemos.
Obrigada, pai da Catarina!
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