Hoje menti. E já nem me lembro bem da última vez em que dei por mim a fazê-lo.
“ - Já estás fina? ”
“ - Estou melhor sim, quase pronta para outra. ”
Menti para evitar uma conversa minada de argumentos que não iam levar a lado nenhum, que não iam acelerar os exames que tenho que ir fazer, que não iam colocar o meu corpo subitamente alinhado com todas as forças e todos os astros.
Este ano voltei a fazer a corrida do Tejo, a mesma em que passei maus momentos no ano passado porque não tinha a preparação adequada e porque estava a travar demasiadas lutas ao mesmo tempo.
Investi na preparação desta prova (pouco, é certo, mas fiz um esforço para ter uma corrida de 6 km em todas as semanas do último mês) e tentei que o Gustavo fizesse o mesmo. Este ano, tentei retribuir todo o carinho e paciência que ele me dedicou no ano anterior para sermos um só “na saúde e na doença”, na lentidão e no sprint (mas não tenho nem metade do talento).
Sem qualquer poder para contrariar, sinto-me a voltar a ser um bicho do mato, uma revoltada, uma bestinha sem sentimentos… Sempre indisposta, sempre enjoada, sempre cansada… Argh!
Da melhor forma que soube e pude, fiz a corrida com o meu mais que tudo (em grande parte para garantir que ele ia até ao fim), ao ritmo dele. Cheguei ao fim com uma sensação de “podia ter feito melhor” mas 1h07m não foi o meu pior tempo, sentia-me bem. Mas o destino já me tinha traçado algo diferente… No comboio de regresso para Algés colapsei nos braços do meu surdo favorito (desculpem o susto mas eu avisei, não é culpa minha se “alguém” não ouviu).
Agora, sinto que o meu corpo continua numa luta horrorosa (a fraqueza, o enjoo, a dor de cabeça…) e sei que vou ter que fazer um esforço extra para cuidar de mim. Mas não se preocupem, continuo inteira com dois braços e duas pernas.