“Apaixonaste-me sem que eu desse por isso. […] Insinuaste-te. Não fui
eu que te escolhi. Quando descobri que te amava já era tarde de mais.
[…]
Teria preferido chegar à conclusão que te amava por uma lenta
acumulação de razões, emoções e vantagens. Mas foi ao contrário. Apaixonei-me
de um dia para o outro, sem qualquer espécie de aviso, e desde esse dia, que
remédio, lá fui acumulando, lentamente, as razões por que te amo, retirando-as
uma a uma dentre todas as outras razões, para não te amar ou não querer saber
de ti.
Custou-me justificar o meu amor por ti. És difícil. És muito bonito e
és doce mas és pouco dado a retribuir o amor de quem te ama. Até dás a
impressão que tanto te faz seres odiado como amado; que gostas de fingir que
estás acima disso”.
Excerto de uma carta de
amor de Miguel Esteves Cardoso
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