“A moral da história não é que deveríamos passar mais tempo com os amigos – claro que sim. Não, a moral é que os amigos continuam amigos apesar de quase nunca estarem juntos.
Porque os meus amigos aceitam a minha maneira de ser e de me comportar tal como eu aceito as maneiras deles. Não gosto, não compreendo, às vezes fazem-me raiva, às vezes entristecem-me, às vezes chocam-me. Mas que remédio tenho eu senão aceitar o azar de me terem calhado aqueles sacanas como amigos?
Foram esses os sacanas que me cairam no goto; é com eles que me divirto. Alguns até são boas pessoas, para que não se pense que só gosto dos sacanas.
Escolhemo-nos uns aos outros e, de um momento para o outro, podemos deixar de ser amigos. Sem essa liberdade, sem essa tristeza a pairar sobre a nossa amizade, a amizade ficaria vazia.
Continuamos a ser amigos mas o mais importante é que continuamos a querer ser amigos, porque é o que nos apetece. Almocemos ou não almocemos. A vontade de irmos almoçar, um dia destes, chega-nos perfeitamente. Não é uma expressão oca. Queremos mesmo ir almoçar um dia destes.
E isso é lindo, porque é livre.”
in Como é linda a puta da vida de Miguel Esteves Cardoso
2 comentários:
Andas a ler livros verdes?!
Beijinhos
Ando a reler crónicas de um livro (verde, sim) que adoro ;)
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