13 de julho de 2014

Sobre os amigos

“A moral da história não é que deveríamos passar mais tempo com os amigos – claro que sim. Não, a moral é que os amigos continuam amigos apesar de quase nunca estarem juntos.

Porque os meus amigos aceitam a minha maneira de ser e de me comportar tal como eu aceito as maneiras deles. Não gosto, não compreendo, às vezes fazem-me raiva, às vezes entristecem-me, às vezes chocam-me. Mas que remédio tenho eu senão aceitar o azar de me terem calhado aqueles sacanas como amigos?

Foram esses os sacanas que me cairam no goto; é com eles que me divirto. Alguns até são boas pessoas, para que não se pense que só gosto dos sacanas.

Escolhemo-nos uns aos outros e, de um momento para o outro, podemos deixar de ser amigos. Sem essa liberdade, sem essa tristeza a pairar sobre a nossa amizade, a amizade ficaria vazia.

Continuamos a ser amigos mas o mais importante é que continuamos a querer ser amigos, porque é o que nos apetece. Almocemos ou não almocemos. A vontade de irmos almoçar, um dia destes, chega-nos perfeitamente. Não é uma expressão oca. Queremos mesmo ir almoçar um dia destes.

E isso é lindo, porque é livre.”

in Como é linda a puta da vida de Miguel Esteves Cardoso

2 comentários:

Susana Alegria disse...

Andas a ler livros verdes?!

Beijinhos

Gabi disse...

Ando a reler crónicas de um livro (verde, sim) que adoro ;)