Camisa, calça de ganga
Colarzinho de missanga
E quase sempre sozinha
Mas chegando a madrugada
Montavas a bicicleta
De t-shirt e calça preta
E grande capa doirada
Uma argola na orelha
E uma mochila vermelha
Quem havia de dizer
O que andavas a fazer
Ai Miriam
Quem te visse
A passear no Chiado
Com um ar muito aprumado
De repente tão reguila
E o que era mais estranho
É que essa tua mochila
Parecia sem tamanho
Lá cabia o que tiravas
De toda a parte onde andavas
Sem que ninguém te apanhasse
E sem que ninguém te visse
Qual Robin que se inspirasse
Nas aventuras de Alice
Quem havia de dizer
O que tu ias trazer
Ai Miriam
Quem te visse
De dia, uma boa menina
E à noite super-heroína
As coisas que tu trazias!
Um grande queijo da serra
Um dicionário, um colchão
Um bom pedaço de terra
Um comboio, um avião
Estacionamento sem multa
Um posto de gasolina
Um bilhete pró Teatro
Umas férias em Berlim
Uma casa e um jardim
Um alvará e um contrato
Um bife, uma sopa quente
Uma visita a Foz Coa
Uns patins, uma meloa
O Expresso do Oriente
Até ao raiar da aurora
Como se fosse um festim
Que nunca mais tinha fim
Como se todos os dias
Tudo fosse sempre assim
E muito mais…muito mais…
As coisas essenciais
P'ra se poder escolher
A vida que se quer ter
E de toda a parte vêm
Os que nunca nada têm
Fazer um grande festim
Com tudo o que tu trazias
Como se todos os dias
Tudo fosse sempre assim
Quem é que pode saber
O que vai acontecer
Ai Miriam
Quem te visse
Se muitos fossem capazes
De fazer o que tu fazes.
(Manuela de Freitas/Ricardo J. Dias)
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